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Privacidade e Segurança: um dilema do novo século

03 ago 2017 AMS

As tecnologias de segurança avançam para trazer maior proteção para pessoas e empresas. Equipamentos para controle de acesso impedem com cada vez mais precisão a presença de pessoas não autorizadas. Câmeras se proliferam cobrindo mais espaços públicos e privados, não só diminuindo a impunidade, mas também permitindo a gestão proativa de equipes de videomonitoramento.

Entretanto, nos últimos anos começam a aparecer questionamentos sobre ameaças à privacidade da população. À medida que diferentes dispositivos vão surgindo e revelando funcionalidades cada vez mais inteligentes e úteis ao nosso cotidiano, a tecnologia se torna mais e mais presente na vida pessoal dos cidadãos. De um lado acontece o desenvolvimento de câmeras e sensores que auxiliam na vigilância, mas, por outro, duvidas começam a ser levantadas sobre a possibilidade de que essa evolução culmine em um cenário de supervigilância.

Por mais que exista uma necessidade de segurança, existe o risco desses questionamentos crescerem a ponto de se tornarem um obstáculo para implantação de novas tecnologias de segurança? É possível alcançar um equilíbrio entre um monitoramento eficiente e a manutenção da privacidade das pessoas? Qual o cenário desse equilíbrio? Essas são algumas perguntas que profissionais de segurança da iniciativa publica e privada precisam começar a tentar responder agora.

Acompanhe o artigo e entenda diferentes perspectivas sobre a discussão.

Como a tecnologia ajuda na segurança?

As câmeras inteligentes são o maior exemplo da aplicação de tecnologias inovadoras em benefício humano. Características como visão computacional, machine learning e inteligência artificial possibilitam que computadores simulem a visão humana através de algoritmos e configurações programadas. Isso permite que os dispositivos enxerguem e, mais importante ainda, compreendam aquilo que veem (de objetos a até mesmo expressões faciais).

A capacidade de interpretar de forma inteligente os dados capturados é o ponto chave desse fenômeno, pois aumenta drasticamente o nível de autonomia dos softwares e dos equipamentos. Programas que realizam análise inteligente de vídeo permitem que câmeras identifiquem de forma independente eventos de risco (como alguém acessando uma área proibida ou pulando um muro) e gerem alertas para o operador humano numa central de controle. A autonomia das tecnologias permite uma escalabilidade do monitoramento nunca vista previamente, então câmeras passam a se multiplicar por todo o mundo.

Em associação, sensores e softwares com analíticos de áudio trazem soluções ainda mais precisas para a atividade de segurança. Com a detecção de ruídos é possível identificar situações de risco com maior agilidade e através de equipamentos mais baratos. Batidas de carro, explosões, vidro estilhaçado e freada brusca são alguns exemplos de situações detectadas pela análise de áudio. Já os níveis de tensão na voz podem indicar se aquela pessoa está sob uma situação de ameaça.

Com todos esses elementos, o modelo de segurança caminha em direção a uma proteção proativa e preditiva, sendo capaz de evitar cada vez mais perigos iminentes, poupando bens materiais e vidas. A tecnologia traz inúmeras vantagens, principalmente no ganho de eficiência e reduzindo custos com equipe presente no ambiente.

A privacidade está ameaçada?

É fácil visualizar os benefícios da tecnologias de monitoramento para a segurança patrimonial e pessoal. Mas existem grupos questionando o uso dessas tecnologias. Alguns setores da sociedade começam a apontar possíveis malefícios de implantar esses recursos em tantas áreas do nosso dia-a-dia. Esses grupos sociais são atores importantes que precisam ser ouvidos por nós, gestores de segurança ou desenvolvedores de tecnologia, para o que hoje são apenas dúvidas não se tornem um obstáculo para a evolução da segurança amanhã.

O primeiro ponto que alguns pesquisadores discutem é o risco do aumento do monitoramento agravar ainda mais diferenças sociais. Quanto mais crescem as formas de vigiar os cidadãos, pode crescer também o reforço para que certos grupos e lugares continuem apresentando maiores índices de criminalidade, sendo, assim, os mais monitorados. Algo como um ciclo vicioso mantendo um status negativos para certos grupos sociais,

Outro ponto relacionado que tem gerado dúvidas é o fato de que hoje ainda não se pode assegurar quem estará no controle. Casos emblemáticos como um hotel nos Alpes austríacos, que teve seu sistemas de portas hackeado sob a exigência do pagamento de um resgate, trazem à tona diversos medos sobre o acesso a todas as informações disponíveis na rede. Ao invés de apostar em uma inovação tecnologia para segurança, pode parecer claro para alguns gestores descartar o uso da tecnologia ao invés de torná-la mais madura.

Além disso, dispositivos wearables (“vestíveis”) passam por constantes evoluções no mercado, que lhes conferem os mais variados formatos tornando-os praticamente imperceptíveis. Câmeras e sensores de áudio inteligentes disfarçados de canetas, óculos e colares (como nos clássicos filmes de espionagem) são uma realidade atualmente e põem em risco informações sigilosas de companhias inteiras.

Reino Unido: um exemplo global

Reino Unido já se destaca mundialmente por ser uma das regiões mais monitorada do globo e reconhecida pelas suas políticas públicas para videomonitoramento, ao considerarmos o número de câmeras existentes para a sua população. São 5,9 milhões de câmeras espalhadas pela região, de acordo com dados da BSIA, gerando a média de 1 câmera para cada 11 pessoas.

Também se destaca por lá o uso de câmeras corporais, para atividades policiais. Segundo a International Association of Chiefs of Polices, em Londres, seu uso traz diversos benefícios, tanto para a população, quanto para os próprios oficiais, pois ajudam a monitorar a atividade profissional e verificar se o serviço à população está sendo realizado sem abuso de força, por exemplo.

Mesmo com os benefícios, grupos a favor da liberdade civil se mantêm atuantes no Reino Unido, a exemplo do Big Brother Watch, responsável por realizar relatórios anuais sobre a atuação dos oficiais. Antes do projeto de câmeras corporais na Polícia de Londres ser posto em prática, houve um grande reunião pública entre a população e as autoridades para explicar como a tecnologia funciona e em que situações ela pode ser utilizada. Já o Painel de Ética da Polícia de Londres, uma organização independente criada pela prefeitura londrina, publicou diversos relatórios com guias éticos para o uso das câmeras por parte dos policiais, buscando conquistar a confiança da população.

A inserção dessas tecnologias aumentam o medo por parte de diversos grupos, que defendem a liberdade individual e o direito à não vigilância. Considerando isso, mudanças legais são previstas dentro de todo esse cenário de transformações. No entanto, especialistas afirmam que é mais provável que ocorram adaptações nas leis já existentes relacionadas à privacidade ao invés da criação de leis totalmente novas para o uso de dispositivos com tecnologia inteligente.

Ao mesmo tempo em que muito se especula sobre ameaças à privacidade, tecnologias cada vez mais sofisticadas surgem para garantir a proteção. Precisamos conviver com isso, não parar o progresso, mas também escutar os anseios sociais em relação à privacidade. Governos e grupos civis já se mobilizam contra o uso indiscriminado da tecnologia. São os primeiros sinais de um debate, que tende a ser global, e começa a trazer esperança para que o equilíbrio tão desejado entre a segurança e a privacidade aconteça.

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