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Os desafios do setor de energia

06 fev 2023 Noticias

Foram registradas 16 torres de energia danikcadas, quatro derrubadas em 11 episódios de ataque

MICHELE RIOS, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP)

O ano de 2023 começou bem agitado para o setor de transmissão de energia com vários ataques às diversas torres espalhadas pelo Brasil. Os incidentes ou vandalismos ocorreram nos estados de Rondônia, Paraná, São Paulo e Mato Grosso, segundo informações divulgadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ao todo, foram registradas 16 torres de energia danikcadas (seis no Paraná e Rondônia, três em São Paulo e uma no Mato Grosso) e quatro derrubadas (três em Rondônia e uma no Paraná) em 11 episódios de ataque.

Para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os eventos de janeiro atestam que o sistema é robusto e de elevada conkabilidade, uma vez que não houve interrupção de fornecimento para o consumidor. As demandas de carga da sociedade continuaram sendo atendidas com a mesma excelência. Ainda segundo a entidade, o SIN é estruturado de modo a ter soluções para o caso de falha ou impossibilidade de uso de um equipamento, com alternativas para manter tanto a geração como a transmissão em operação em situações de manutenção ou, como no caso, incidentes atípicos.

Vale destacar que o governo brasileiro tomou medidas para tentar conter os ataques, inclusive o Ministério de Minas e Energia instalou um gabinete de crise com a participação da Aneel para acompanhar a situação do sistema elétrico brasileiro e para atuar na prevenção e no combate aos atos de sabotagem às instalações do sistema interligado.

“A reação foi rápida e coordenada pelo Ministério de Minas e Energia e pela Aneel. Durante o período necessário foi mantido um gabinete de monitoramento do setor elétrico, com foco específico nesses eventos, com a emissão de boletins diários de acompanhamento. A situação é de normalidade e o monitoramento está sendo conduzido dentro das rotinas padrão”, disse o ONS à Agência CanalEnergia.

De acordo com o ONS, as discussões estão sendo conduzidas e a instância que fica responsável por essas definições é o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e há espaço para novas ações, como ampliar o uso da tecnologia no controle da segurança das linhas e algumas ações que estão sendo mapeadas. Por ora, é importante enfatizar que não houve impacto para o consumidor e que a reação das entidades do setor elétrico aos incidentes foi rápida e eficiente.

Já para o presidente da Associação Brasileira da Empresas de Transmissão de Energia (Abrate), Mário Miranda, as transmissoras demonstraram alta resiliência e os órgãos de governança agiram tempestivamente e adequadamente. O executivo citou que eles tiveram um apoio inédito de todas as associações do setor elétrico que foi capitaneada pelo Fórum das Associações do Setor Elétrico (FASE). E fizeram uma carta ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, levando toda a preocupação e cobrando um sistema de inteligência para atuar com providência. “É necessário fazer uma integração das informações para poder dissuadir e assim fazer um trabalho também de inteligência para antecipar os fatos”, ressaltou.

“Conversei nessa semana também com representantes da Aneel e eles me disseram que a situação já está sob controle. Os esforços foram desdobrados atravessou o ano novo e mais quatro dias trabalhando para recompor o sistema e as empresas estão cada vez mais colaborativas entre si e isso é um grande ganho de experiência para nós”, disse.

O presidente da Abrate ainda destacou que hoje as empresas de transmissão estão se transformando verdadeiramente em empresas de logística, para atender a qualquer adversidade que possa ocorrer. Vale destacar que são 175 mil km de linhas e mais de 500 mil torres de transmissão em todo o país, nos mais diversos ambientes socioeconômicos e ambientais, sujeitos às maiores diversidades climáticas possíveis.

Mário Miranda disse à Agência CanalEnergia que as empresas estão chegando a conclusão em comum acordo que cada vez mais elas tem que dificultar a ação do vandalismo. Ele destacou que as empresas implementaram um sistema que encapsula os cabos de aço e faz um recheio de proteção e com isso dificulta as ações de bandidagem. Outro ponto importante é onde tem as treliças de montagem das linhas das torres que tem parafusos e eles foram soldados, o que dificulta violentamente esse tipo de ação.

Além disso, outras ações para reforçar o patrulhamento nos locais que podem ser alvo dos criminosos foram realizadas, como inspeções especiais nas linhas, nas travessias de rodovias e de ferrovias, e o fortalecimento de parcerias com o Ministério da Justiça, polícias militares e rodoviárias.

Para o sócio da MC&E, José Marangon, o segmento de transmissão foi o sistema que mais teve investimento nas duas últimas décadas dentro do setor elétrico. Chegamos a um acréscimo de 80% de 2010 a 2020 em quilômetros de linhas e de 90% em MVAs de transformação. A tendência é ter uma taxa de crescimento ainda maior até 2026. Isto traz uma maior segurança para o sistema”, explicou.

Marangon ainda afirmou que as redes de transmissão têm vulnerabilidades que dependem do tipo de ameaça e da sua resiliência. Eventos climáticos extremos e vandalismo são exemplos de ameaças que as redes devem estar preparadas. No Brasil, o vandalismo em redes de alta tensão não é ou não era tão frequente, mas parece que devemos aumentar a resiliência destas redes. “Como não é possível monitorar toda a rede, já existem estudos que identificam os pontos críticos da rede onde ações de vandalismo podem acarretar em apagões sérios. Nestes pontos deve-se reforçar sistemas de segurança”, disse.

O executivo ainda alertou que no futuro, com a introdução de geração local através dos recursos energéticos distribuídos, a tendência é ter um sistema cada vez mais robusto. “No Brasil, devido a nossa característica hidráulica, construímos uma malha de transmissão extensa para transportar a energia de usinas cada vez mais distantes, o que difere dos países do hemisfério Norte onde predomina a geração térmica próxima aos centros de carga. Criamos vulnerabilidades com isto, mas temos hoje uma coordenação feita pelo ONS que tem tido ótimos índices de desempenho. Atentar para os pontos críticos da rede (nível de criticidade alto) como certas subestações me parece uma ação mais adequada no momento. Acho que expandir mais o sistema não é a solução”.

A sócia da área de Energia e Recursos Naturais do Demarest Advogados, Rosi Costa Barros, disse que apesar de estável, as instalações de transmissão estão expostas e sujeitas a atos de vandalismo e terrorismo que podem abalar a segurança do suprimento de energia. “O importante é ter em mente que o regulador não pode atribuir às transmissoras a responsabilidade pelas consequências de atos danosos e intencionais de terceiros, tampouco desbalancear os contratos de concessão com a exigência de obrigações impossíveis. Assim, o aprendizado que deve ser extraído dos acontecimentos é a necessidade de um trabalho em conjunto e construtivo na tentativa de buscar soluções para evitar abalos na segurança do sistema, não afastando a necessidade de um serviço de inteligência mais proativo na política de segurança pública”, ressaltou.

Já para a advogada do Demarest, Thaís Tarelho, o problema é que tais ataques, apesar de considerados atos de terrorismo pelo regulador, com a exclusão de responsabilidade das transmissoras, acabam resultando em ônus estrutural para as transmissoras. Isso porque o regulador tende, na tentativa de proteger o sistema, a kcar mais exigente com questões de segurança, muitas vezes fazendo exigências às concessionárias que transcendem o razoável. “Do ponto de vista setorial, entendemos que as transmissoras já são bastante oneradas com as regras existentes sobre a segurança das instalações. Quaisquer melhorias para evitar danos em razão de ataques devem advir de uma política de segurança pública”, explicou.

Para finalizar, Edvaldo Santana, ex-Aneel e Abrace, destaca que o segmento de transmissão é dos mais sólidos de todo sistema elétrico. “E esses não foram os primeiros nem serão os últimos ataques. Mas o setor precisa ficar atento, pois as ameaças podem vir de onde nunca se esperou, como do vandalismo de cunho político”, disse. Segundo ele, é necessário ter sempre pronto um plano de contingência, como há para equipamentos estratégicos. “O setor elétrico sempre teve um programa de operação especial para os períodos eleitorais, como qualquer outro grande evento. Agora descobriu que precisa de um plano de contingência para as ameaças pós-eleitorais, que passaram a ser concretas”, finaliza.

Novas tecnologias

Empresas de tecnologia para segurança eletrônica também estão de olho no segmento de transmissão. A Avantia, por exemplo, aposta em videomonitoramento e para esse ano pretende lançar um estudo de drones automatizados para ações contra sabotagem. “Em breve poderá ser possível ver drones automatizados em linha de transmissão, que terá como principal missão, diminuir perdas por conta de sabotagem e, com isso, evitar a falta de energia para a sociedade, entre outros benefícios”, disse o diretor comercial da empresa, Bruno Carvalho.

Confira a matéria: https://canalenergia.com.br/especiais/53237475/2023-comeca-agitado-para-o-segmento-de-transmissao-de-energia

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